Acompanhar alguém em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital pode ser devastador. Em geral, só vão para as UTIs as pessoas com um quadro clínico que inspira cuidados especiais. Não há quartos. São “boxes” enfileirados, pequenas repartições onde os sujeitos lutam pela vida. A correria não pára: noite e dia os profissionais de saúde estão em constante vigia, entrando e saindo. Se pudéssemos olhar de cima, talvez imaginássemos uma colmeia onde as abelhas seguem firme em seu propósito, sabendo seu papel.
Para quem fica do lado de fora, em alguns hospitais há uma espécie de sala de espera, onde os familiares e amigos dos doentes aguardam. Enquanto se aguarda a chegada de um médico com alguma notícia, o choro costuma ser acolhido pelos demais. Afinal, “todos estão no mesmo barco”. O que mais se escuta é: “tudo vai dar certo”, “não precisa se preocupar”, “só manter o pensamento positivo…” Há, também, aqueles que recorrem a afirmações referentes aos desígnios de Deus, aos quais é preciso se submeter sem vacilar. “Deus sabe, está no controle, o enfermo já está curado”.
Infelizmente, ninguém acredita muito no que está dizendo. É uma linguagem fática, que pode se esfarelar a qualquer momento, dependendo da evolução do quadro de doença do familiar ali internado. De repente, a conversa gira em torno de algo muito brusco, inesperado, que chegou e tumultuou tudo, virou a vida de ponta cabeça! Trata-se de uma resposta provisória para aplacar a dureza da situação. Afinal, como lidar com a angústia da possibilidade, a qualquer momento, de receber a notícia da partida de um ser amado?
Não há fórmulas ou palavras mágicas. A Psicanálise não opera na via das promessas de um happy end. Ela lê as durezas da vida como de fato são. O processo passa por acolher um sofrimento e legitimá-lo, mostrando para cada familiar que há algo de impossível no reverso dessas situações, posto que frente ao real, não há negociação ou previsibilidade. Resta o saber lidar com muito esforço, muita dor e muita análise.