Carnaval: escolha sua fantasia

Fantasia de Carnaval

Nem bem acabou a correria de final de ano e eis que surge um  grito na avenida: “olha o carnaval aí, gente!”. O zum, zum, zum é grande. É tempo de alegria, de uma brincadeira que é levada a sério por muitas pessoas que trabalham freneticamente para que os desfiles das escolas de samba sejam impecáveis.

Até quarta-feira de cinzas, o carnavalesco empresta o corpo para vestir uma fantasia dentre as disponíveis para o desfile daquele ano. O samba, as fantasias, a purpurina, a serpentina, a divisão das pessoas em alas levam-nos a pensar. Como cada um se inscreve no desejo do Outro? Como cada qual vem compondo o samba-enredo de sua vida? Que tipo de fantasia anda vestindo?

Há quem se esconda por trás de fantasias imaginárias. É como se dissessem para si mesmas que, sem a fantasia de “bom moço” ou de “rebelde”, por exemplo, não conseguiriam entrar na avenida. Outras seguem o fluxo do bloco de rua, cantando um samba-enredo sem ater-se à letra, apenas a vozeando.

A fantasia sempre teve um papel fundamental na teoria e história da psicanálise. A partir das histéricas, Freud se deparou com a distinção entre realidade empírica e realidade psíquica. Fantasia, para a psicanálise, é uma ficção que dá estrutura de verdade a um fato.

Assim sendo, ao longo de uma análise, não se trata de decretar o fim do trio Pierrô, Colombina e Arlequim. Mas, trata-se de aprender a ver em que medida uma determinada fantasia serve ou não para sua vida.

Em uma análise, muitas vezes é necessário rasgar algumas fantasias para que outras sejam construídas. Uma análise, portanto, é um convite para que essa fantasia estrutural do sujeito possa ser enunciada e atravessada. Muitas vezes, a pessoa descobre que está desfilando em uma ala que não condiz com seu desejo.

Opa! É quando o analista ouve o “Ó abre alas, que eu quero passar”! A pessoa, então, é convidada a construir o seu samba-enredo, longe das expectativas de aplausos de outros blocos. O samba-enredo, que dará o ritmo, e a fantasia, que dará o colorido, não se acabarão na quarta-feira. Perdurarão até quando a pessoa quiser colocá-los na passarela da vida…

Sobre gloriavianna@terra.com.br

Glória Vianna é psicanalista lacaniana e carioca. Formada em Psicologia pela PUC-RJ, fez curso de especialização em Arteterapia no Instituto de Arteterapia no Rio de Janeiro. Nessa área, trabalhou com grupos de crianças de 4 a 9 anos. Até hoje, adora história da arte (e sabe contar, com arte, várias histórias no atendimento de crianças). Durante quatro anos, fez formação analítica na Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, no Rio de Janeiro. Fundou, com um grupo de psicanalistas brasileiros e argentinos, a Escola de Psicanálise de Niterói, em 1983. Nessa época, traduziu as conferências de Gerárd Pommier e Catherine Millot. As traduções foram publicadas na revista da escola, “Arriscado”. Ama cavalos. Durante quase 10 anos dedicou-se à criação de cavalos árabes, criação essa que chegou a ter amplo reconhecimento no exterior. Vinda para São Paulo no final do ano de 1989, adaptou-se, a duras penas, à vida paulistana, onde, inclusive, fez Mestrado em Linguística na PUC-SP. Hoje, transita com facilidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, mantendo clínicas em ambas as cidades. Eu seu site, Glória divide, com muito bom humor, pequenos episódios retirados de seus mais de 30 anos de clínica.
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