Então é Natal, ou, quando Dezembro chegar

Polonia 1

É Natal, e daí? Lá se vai mais um ano!

É Natal, e daí? Mais uma vez, as pessoas repetem a mesma ladainha: preciso fazer uma lista dos presentes para os mais chegados. Preciso, também, arrolar aqueles para quem compro apenas uma lembrancinha, assim baratinha, simplesinha, só um carinho… E, puxa: lá se vai mais um ano!
Fim de ano, todos cansados, esperando o 13º salário. Esperando. Esperando que Papai Noel nos faça emagrecer, deixar de fumar, entrar na prestação para comprar um carro, trocar a moto… Temos, então, três listas: a de presentes, a de lembrancinhas e a de desejos cuja realização nos assusta.
No saber popular, dizem que sempre desejamos o que já sabemos que não vamos cumprir. Isso explicaria os adiamentos do emagrecimento, da troca de carro etc. É como se o sujeito, de uma forma tosca, sempre ficasse devendo para ele mesmo. Assim, quem sabe, ele pode, ao mesmo tempo, não ter de enfrentar o seu desejo cumprido sem ter o título desejante protestado no Serasa. Pode pedir outra sessão para o analista.
No consultório, ao chegar o mês de Dezembro: já na primeira semana do mês, é muito comum que os pacientes cheguem falando de um Natal de muita euforia. Passado um tempinho, reclama-se do ano precedente. Sempre houve um pai que não apareceu para a ceia, um dinheiro que se esperava e que não pintou etc.
O Natal fica, assim, associado a momentos em que a pessoa, de uma maneira ou de outra, “ficou pendurado na broxa sem escada”! Passa-se da euforia ao pegar fila, à loja cheia, ao estacionamento do shopping lotado. Experimenta-se uma depressão que nenhum Panetone alivia, quem diria o Prozac!
Enquanto a pessoa acredita em Papai Noel, uma das figurações do Outro, vai continuar falando do rasgar correndo o embrulho de presente e da decepção quando não encontrou o que queria. Nesses relatos, escutamos muitos soluços, frases entrecortadas, muitas vezes de certa ironia em relação a um tempo que passou e que, certamente, nunca existiu.
Continuaremos pensando que “tudo que é bom dura pouco?” Ou, este ano, cada um de nós vai dar um jeito de ser o próprio Papai Noel? Boa decisão! Cheers!

Publicado originalmente em 20 de dezembro de 2013

Sobre gloriavianna@terra.com.br

Glória Vianna é psicanalista lacaniana e carioca. Formada em Psicologia pela PUC-RJ, fez curso de especialização em Arteterapia no Instituto de Arteterapia no Rio de Janeiro. Nessa área, trabalhou com grupos de crianças de 4 a 9 anos. Até hoje, adora história da arte (e sabe contar, com arte, várias histórias no atendimento de crianças). Durante quatro anos, fez formação analítica na Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, no Rio de Janeiro. Fundou, com um grupo de psicanalistas brasileiros e argentinos, a Escola de Psicanálise de Niterói, em 1983. Nessa época, traduziu as conferências de Gerárd Pommier e Catherine Millot. As traduções foram publicadas na revista da escola, “Arriscado”. Ama cavalos. Durante quase 10 anos dedicou-se à criação de cavalos árabes, criação essa que chegou a ter amplo reconhecimento no exterior. Vinda para São Paulo no final do ano de 1989, adaptou-se, a duras penas, à vida paulistana, onde, inclusive, fez Mestrado em Linguística na PUC-SP. Hoje, transita com facilidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, mantendo clínicas em ambas as cidades. Eu seu site, Glória divide, com muito bom humor, pequenos episódios retirados de seus mais de 30 anos de clínica.
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