TPM é o outro nome da angústia?

Polonia 2

A sigla TPM, tão conhecida como Tensão Pré-menstrual, bem poderia designar outra coisa: TEMPO PARA MOSTRAR. Mostrar o que? Que algo não anda bem em mim. TPM poderia ser um nome bonito para designar o vazio que as mulheres experimentam, sem saber o que é. Poderia ser uma sigla que, ao nomear suas angústias, torna-as mais palatáveis, permitindo tratá-las.
Ao receber, de um médico, o diagnóstico de TPM, é como se uma mulher tomasse para si o direito de permanecer tensa. É licença para angústia. Muita gente se ancora nesse diagnóstico para justificar suas dificuldades psíquicas. Dar um diagnóstico de TPM pode, portanto, ser muito delicado: a pessoa pode, a partir dele, se sentir à vontade para insultar o marido, ignorar o filho, chorar sem motivos…
É como se, em certas épocas, comportamentos inaceitáveis se tornassem respeitáveis e, até, esperados. Afinal, “estar de TPM” virou, em alguns casos, justificativa para tudo. A TPM é como um problema de junta: junta tudo e joga fora.
Do ponto de vista médico, a TPM é uma síndrome, um conjunto de sintomas. Do ponto de vista psicanalítico, é um lembrete mensal de que a mulher não está confortável com o aparelho reprodutor feminino.
A sensação da cólica menstrual, fisiologicamente, corresponde à força que o corpo precisa fazer quando ocorre a descamação do endométrio. Pode ser desconfortável, mas não precisa ser dolorido. Ou seja, não precisa ser um carma mensal para a mulher.
O período menstrual varia de mulher para mulher. De todo modo, é até lembrado em canções da música brasileira, como “Cor de Rosa Choque”, de Rita Lee. Em um dos versos, se lê: “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”. O que tem de esquisito nisso? Se uma pessoa dá consistência à esquisitice de seu corpo, o que é natural passa a ser insuportável.
A TPM, portanto, é sinal do que? Sinal de que uma parceria entre um médico e um psicanalista poderia ser bem-vinda. Na mesma medida em que a pessoa pode encontrar, no ginecologista, tratamento para as dores fisiológicas, pode buscar, em um psicanalista, tratamento para os sintomas psíquicos que buscam expressão em seu corpo.

Sobre gloriavianna@terra.com.br

Glória Vianna é psicanalista lacaniana e carioca. Formada em Psicologia pela PUC-RJ, fez curso de especialização em Arteterapia no Instituto de Arteterapia no Rio de Janeiro. Nessa área, trabalhou com grupos de crianças de 4 a 9 anos. Até hoje, adora história da arte (e sabe contar, com arte, várias histórias no atendimento de crianças). Durante quatro anos, fez formação analítica na Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, no Rio de Janeiro. Fundou, com um grupo de psicanalistas brasileiros e argentinos, a Escola de Psicanálise de Niterói, em 1983. Nessa época, traduziu as conferências de Gerárd Pommier e Catherine Millot. As traduções foram publicadas na revista da escola, “Arriscado”. Ama cavalos. Durante quase 10 anos dedicou-se à criação de cavalos árabes, criação essa que chegou a ter amplo reconhecimento no exterior. Vinda para São Paulo no final do ano de 1989, adaptou-se, a duras penas, à vida paulistana, onde, inclusive, fez Mestrado em Linguística na PUC-SP. Hoje, transita com facilidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, mantendo clínicas em ambas as cidades. Eu seu site, Glória divide, com muito bom humor, pequenos episódios retirados de seus mais de 30 anos de clínica.
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Um Comentário

  1. Glória, mas que texto pertinente e bom de ler!
    Sempre desconfiei dessa queixa de TPM, aí vem vc e me esclarece o que eu intuía sem elaboração . Super valeu!

    • gloriavianna@terra.com.br

      Cara Leda, muito obrigada pelo comentário. Com a psicanálise, entendemos que mais que, para além do corpo biológico, o corpo pulsional reclama atenção! beijo

  2. Pingback:O difícil percurso do estudante na Universidade ⋆ Glória Vianna

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