Para curar as ressacas da vida, não basta apelar para o Engov
Está chegando o fim do ano. Muita correria, a começar pelas donas de casa, para quem Natal e Ano-Novo não podem passar sem uma grande ceia. No caso do ano que vai chegar, a comemoração é acompanhada sempre de muita bebida: brinda-se por qualquer coisa, a qualquer hora.
Brinda-se, sobretudo, pelo que já se foi, pois não há como saber o que vem pela frente. Depois, reclama-se da ressaca. Ressaca… é assim o nome que se dá aos excessos, de bebida , de saudade, de amor, de tudo! Olhos de ressaca… Como nos arrependemos dos efeitos da “água que o passarinho não bebe”…
Dia seguinte: gosto de cabo de guarda-chuva na boca, corpo doído, dor de cabeça e a pergunta: como foi mesmo tudo ontem? Para a ressaca das festas de fim de ano, dizem que não há melhor medicação que o famoso “Engov”, cujo nome, aliás, parece ter se originado da pronúncia dada pela neta do dono do laboratório, ao ouvir a palavra em inglês “hangover”, ressaca. Resta saber se a ressaca que chega com o fim do ano é exclusivamente causada pela bebida.
Com certeza, a cachaça é marvada, porém, ainda mais marvada é a quebra das nossas expectativas. Muitas promessas são feitas, sobretudo, quando se começa a primeira semana do ano novo. Por exemplo: vou deixar de fumar, de tomar tanta cerveja, de comer tanto…
Lendo essas promessas com o jargão da psicanálise, podemos dizer que a pessoa promete a si própria domesticar o seu gozo, torná-lo menos associado ao sofrimento. As promessas de Ano-Novo, quase sempre, se referem à possibilidade de associar gozo e prazer. Por esse motivo mesmo, quando fazemos, desconfiamos: Mas será que não foi assim também no ano passado, e no retrasado também?
Há excessos que parecem ser incuráveis. Quanto a eles, nada adiantam as promessas, mas, sim, a consequência das ações. Quando não conseguimos fazer valer nossas próprias promessas, haja ressaca do coração e da vida! Só que, aí, o remédio talvez não seja “Engov”, mas uma boa sessão de análise, ou, quem sabe, uma boa dose de cachaça!
Publicado originalmente em 28 de dezembro de 2013