FELIZ ANO NOVO?

Ano_novo_no_mundo

Mês de Janeiro. Época de comprar uma agenda nova, de pensar nos compromissos ao longo dos meses, de fazer novos projetos ou de retomar os engavetados. Começo do ano parece uma oportunidade de renovação.

Mas é de se pensar: o que faz de um ano ser realmente novo? Aniversários serão comemorados, contas sempre chegam, impostos precisam ser pagos etc. De cada dez pessoas que começaram 2017 afirmando querer parar de fumar, por exemplo, quantos, de fato, deixarão de repetir o gesto de acender o cigarro?

A alteração de uma data não acarreta uma mudança no sujeito. Virar a folhinha não garante se livrar da repetição do ano velho. Sair do ano velho é sair da repetição que se impõe sobre o sujeito, de modo a levá-lo a viver em um automatismo. Sair do ano velho é abandonar a circularidade infernal do sintoma, da o que faz com que todo ano pareça igual.

A circularidade do sintoma é como se fosse uma teia protetora do desejo de cada um. Essa teia traz uma pseudossensação de segurança. Ela traz um ônus grande: não permite o prazer de desfrutar uma vida saborosa.  Permanecer no mesmo por anos e anos, pode fazer com que a vida escorra pelas mãos.

O que faz um ano ser realmente novo é a decisão de começar a ousar fazer diferente.

O que faz um ano ser realmente novo é ter coragem de se livrar daquele sintoma teimoso.

O que faz um ano ser realmente novo é não recuar frente às surpresas e ao inusitado. Afinal, são elas que dão cor e sabor a cada ano.

Cheers! Feliz ano novo!

Sobre gloriavianna@terra.com.br

Glória Vianna é psicanalista lacaniana e carioca. Formada em Psicologia pela PUC-RJ, fez curso de especialização em Arteterapia no Instituto de Arteterapia no Rio de Janeiro. Nessa área, trabalhou com grupos de crianças de 4 a 9 anos. Até hoje, adora história da arte (e sabe contar, com arte, várias histórias no atendimento de crianças). Durante quatro anos, fez formação analítica na Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, no Rio de Janeiro. Fundou, com um grupo de psicanalistas brasileiros e argentinos, a Escola de Psicanálise de Niterói, em 1983. Nessa época, traduziu as conferências de Gerárd Pommier e Catherine Millot. As traduções foram publicadas na revista da escola, “Arriscado”. Ama cavalos. Durante quase 10 anos dedicou-se à criação de cavalos árabes, criação essa que chegou a ter amplo reconhecimento no exterior. Vinda para São Paulo no final do ano de 1989, adaptou-se, a duras penas, à vida paulistana, onde, inclusive, fez Mestrado em Linguística na PUC-SP. Hoje, transita com facilidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, mantendo clínicas em ambas as cidades. Eu seu site, Glória divide, com muito bom humor, pequenos episódios retirados de seus mais de 30 anos de clínica.
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Um Comentário

  1. Glória, o Ano Novo e seu texto me fizeram refletir bastante . Penso que é importante o tempo ser cortado em fatias. Funciona como uma pausa que, para muitos pode mesmo significar um desejo de recalcular a rota, de reinventar a vida apesar dos sofrimentos todos! Eu espero mesmo poder reordenar um tanto dos meus sintomas a cada Ano Novo, até saber me haver com eles com certa serenidade. Então , se assim for, cada ano que passa ( embora seja um a menos) pode também ser visto como algo a mais.
    Oxalá !!!

    • Maria da Glória Vianna

      Oxalá que todos que lerem o texto possam ter essa sensibilidade que você teve e essa reflexão profunda e muito honesta. Oxalá que esse desejo de fazer diferente se cumpra!
      Fiquei muito tocada com sua resposta. Quero neste ano e nos próximos que virão, sempre poder compartilhar com você essa beleza que é a psicanálise. Beijo carinhoso

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