Glória Vianna é psicanalista lacaniana e carioca. Formada em Psicologia pela PUC-RJ, fez curso de especialização em Arteterapia no Instituto de Arteterapia no Rio de Janeiro. Nessa área, trabalhou com grupos de crianças de 4 a 9 anos. Até hoje, adora história da arte (e sabe contar, com arte, várias histórias no atendimento de crianças). Durante quatro anos, fez formação analítica na Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle, no Rio de Janeiro. Fundou, com um grupo de psicanalistas brasileiros e argentinos, a Escola de Psicanálise de Niterói, em 1983. Nessa época, traduziu as conferências de Gerárd Pommier e Catherine Millot. As traduções foram publicadas na revista da escola, “Arriscado”. Ama cavalos. Durante quase 10 anos dedicou-se à criação de cavalos árabes, criação essa que chegou a ter amplo reconhecimento no exterior. Vinda para São Paulo no final do ano de 1989, adaptou-se, a duras penas, à vida paulistana, onde, inclusive, fez Mestrado em Linguística na PUC-SP. Hoje, transita com facilidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, mantendo clínicas em ambas as cidades. Eu seu site, Glória divide, com muito bom humor, pequenos episódios retirados de seus mais de 30 anos de clínica.

Silêncio na ponte aérea?

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Grande agitação no saguão. Todos os passageiros deverão dirigir-se a outro portão de embarque. Assim, tais quais beduínos no deserto, os passageiros caminham com suas bagagens. O percurso nem é tão longo, mas parece uma eternidade, para quem, há mais de uma hora, tenta embarcar em um voo, sentar-se na aeronave, respirar e desfrutar de um pouco de silêncio, seja para dormir, ler um bom livro ou planejar oque fará na cidade de destino.

Toda semana, meus pés experimentam a sensação de, pelo menos por 50 minutos, flutuarem. Decolam em São Paulo e pousam no Rio de Janeiro. Não interessa o motivo da viagem. Cada um sabe de si, em seu silêncio mais perturbador que o motor do avião! Mas, esse silêncio tem seu tempo contado. Não se pode escapar do fato de que alguém vai reclinar a poltrona, pedir licença para se sentar no banco ao lado, esbarrarem alguma parte do seu corpo, pedir desculpas, porque pisou no seu pé ou mesmo pedir para baixar a persiana da janela. Quando finalmente o avião está preparado para a decolagem e você pensa que o silêncio vai reinar nos ares, lá vêm os intermináveis avisos! É preciso abstrair, caso contrário, você não “descola”!

Enfim, conseguir ficar em silêncio ou mesmo desfrutar de, ainda que por pouco tempo, um estado de ausência de barulho de qualquer ordem, é uma ilusão. Quando o avião decola, estamos mais perto do “mundo da lua”. No entanto, parece que ninguém pode se permitir estar nesse estado, em momentos de pura leveza e contemplação.

Da janela, é só você começar a olhar as nuvens se movimentando em slow motion que lá vem alguém pedindo para levantar a poltrona, puxar um papo sobre um último episódio do mundo da política ou de banalidades do dia a dia. A impressão que tenho é que pouco se suporta o silêncio. Quanto poderíamos aprender com ele. Ao invés disso, ninguém o suporta. Há sempre alguém mastigando um chiclete, falando com quem acabou de conhecer, questionando os comissários de bordo a respeito de qualquer coisa. Enfim, mais que ouvir o silêncio, as pessoas querem ouvir o som da própria voz ou de um outro.

De São Paulo ao Rio de Janeiro são 50 minutos em que o passageiro experimenta a sensação de uma imaterialidade. Enquanto o avião não aterrissa, são outros sons que quebram o silêncio da rotina diária. O telefone não vai tocar, não chegará aviso de mensagem com mais um problema para resolver, a campainha não será ouvida, o chefe não vai lhe cobrar nenhum relatório… O tempo é curto e passa tão rápido que quando, finalmente, a pessoa pensa que o silêncio reinará, lá vêm os avisos de preparação para a aterrisagem.

É chegada a hora em que o sujeito vai ter que “cair na real” e aterrissar nos barulhos e sons da vida cotidiana, ou melhor, da sua psicopatologia da vida cotidiana.Assim, ao invés de ouvir tantos barulhos de buzinas e celulares, que tal pararmos para pensar na necessidade de ouvirmos nosso silêncio? Esse sim precisa ser escutado atentamente, não importando quando e onde. Trata-se de um silêncio que não cessa de buscar maneiras de não se fazer ouvir. E por falar nisso, que cartão de embarque você escolherá para ouvi-lo?

 

“Silêncio na ponte aérea?” é parte da série “Ponte Aérea”, com novos textos a serem publicados.

A psicanálise (en)cena

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Sábado à noite, no Rio de Janeiro, calor de matar! No primeiro final de semana de abril, quando muitos poderiam estar caminhando à beira-mar ou jogando uma conversa fora, muitos cariocas, como eu, fomos assistir à peça no Teatro Maison de France. Valeu muito a pena. Tive boas surpresas. O nome do teatro tem todo o glamour francês, no entanto, o público, na sua maioria jovem, viu uma peça despojada em que o brilhantismo estava na atuação marcante dos personagens.
Como a peça veio parar no Brasil? Motivado pelo convite do Freud Museum, em Londres, Antonio Quinet escreveu e montou uma peça teatral em língua inglesa. Sua estreia ocorreu em 12 de novembro de 2013. Posteriormente, Quinet produziu a versão brasileira dessa peça. Ela está registrada no livro Hilda e Freud (2016), pela Giostri Editora, de São Paulo. Na obra, Hilda Doolitle, poeta, escritora e ensaísta da língua inglesa (1886-1961) rememora sua análise com Freud.
Três quadrados apoiados no palco. Enganou-se quem pensou que cada um pudesse se referir à típica cena edípica: pai, mãe e filho. Esses grandes quadrados ora eram usados para sentar, ora para deitar. Nada em excesso. Quinet surpreendeu ao tirar de cena o típico divã de Freud ou as reproduções das obras de arte do psicanalista, tão comumente divulgadas. O diálogo entre os personagens foi o que manteve a transferência do espectador com os atores, ou melhor, com Hilda e Freud.
A maestria de Quinet está no esvaziamento proposital das cenas típicas e até caricaturais de um consultório de um psicanalista, sobretudo de Freud. Quem foi na ânsia de fazer vários “flashes”, ainda que sem luzes, caiu do cavalo, ou melhor, do divã! Apresentada em um só ato, a peça fez com que o espectador tivesse que se confrontar, de uma só vez, com a sutileza de diálogos cuidadosamente arquitetados pelo autor.
Por falar em queda, o chão do palco, todo revestido de espuma, amortecia não só a quebra de expectativa como também criava uma atmosfera onírica a partir da qual não se ouvia nenhum passo dos personagens: tanto Freud quanto Hilda pareciam levitar no pulsar incessante do inconsciente.
As sessões entre Hilda e o pai da psicanálise deram o que falar. Quinet conseguiu, em doze cenas, destacar os momentos mais cruciais da análise da paciente. Hilda foi procurar Freud por causa de um bloqueio na escrita. É verdade, caro leitor, mesmo as escritoras mais geniais podem passar por “maus pedaços”. Por que ela, sendo poeta, não conseguia mais escrever? Eis a dúvida que a levou ao divã.
Hilda foi corajosa. Sabia que era no divã que teria de encontrar modos de superar a angústia da página em branco. Assim, ao longo da análise, por meio da escuta e intervenções de Freud, a escritora pôde se deparar com a falta essencial que marca o ser humano. Ao reconhecê-la, a paciente resolveu, em suas palavras, a sua “equação pessoal”. Em um dado momento, Hilda disse: “As mulheres são perfeitas”. Ao que Freud respondeu, quebrando todas as suas expectativas: “Perfeitas com suas faltas”.
Eis uma das lições mais preciosas da psicanálise: quanto mais o ser humano se depara com a sua falta, menor a expectativa que cria de si mesmo e dos outros. Não sendo mais afligido pela busca da completude, cada pessoa pode aprender, à sua maneira, a lidar com os inesperados da vida, com “algo novo para ser encontrado”.
Quinet mantém no espectador essa falta, sugerindo-lhe não uma completude em um cenário elegantemente povoado. Ao evidenciar o vazio, permite com que cada um, à sua maneira, ache um modo de se encontrar com a psicanálise! Quinet não está interessado em dar uma “lição” do que é a psicanálise. Ele segue, corajosamente, o desejo. E você, em qual papel escolheu atuar?

Elogio ao incompleto: Só a morte completa a vida

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Pedro Henrique, 42 anos, um advogado bem-sucedido, contou-me que não entendia os motivos pelos quais, apesar de seu sucesso pessoal e profissional, não conseguia se libertar de uma angústia que o aprisionava. Já tinha procurado ajuda de vários médicos e feito uma bateria de exames. Buscava uma resposta para o grande “x” da sua vida. Dizia que sempre faltava uma parte que, na visão dele, o completaria.
Não teve nenhum sucesso. Foi por essa razão que veio procurar a minha ajuda, indicada por um médico da família. Nas primeiras sessões, contou-me como se sentia infeliz porque, apesar de ter seguido o script traçado por seus pais, ter conseguido um bom emprego, um casamento feliz, achava que tinha saltado uma parte da vida. Era como se uma folha aquele script tivesse voado de suas mãos. Qualificava-se como uma pessoa blasé: nada o comovia.
Durante as sessões, eu tentava encontrar algo que escapasse à cadeia da fala tão rigorosamente construída por ele. Aliás, Pedro Henrique dominava a arte da retórica. Um dia, quando cortei a sessão, lhe disse: “Pedro, ficamos por aqui”. Imediata e abruptamente, o paciente me interrompeu e falou: “Pedro Henrique”! Ao ver essa reação, eu disse: “sim, Pedro. Eu me chamo Maria da Glória e ora as pessoas me chamam pelo nome composto, ora por Glória ou, ainda, apenas Maria. Isso é um problema para você?”
Foi nesse momento que o inconsciente se abriu. Contou-me que exigia que o chamassem de Pedro Henrique porque foi fruto de uma gravidez gemelar. Uma única placenta o unia ao seu irmão. Um se chamaria Pedro e outro Henrique. No entanto, um bebê morreu no parto. Teria sido o Pedro ou o Henrique? Os pais, diante dessa situação, deram-lhe o nome composto de “Pedro Henrique”. Passou a “lembrar-se” da sensação estranha que sentia quando as pessoas da família olhavam para ele. Pareciam sempre procurar outra pessoa.
Pedro Henrique havia sido incapaz de sustentar o enigma da morte. Carregava o nome do irmão morto na tentativa de se completar. Não valia mais ter entendido que não é impossível interpretar a morte? Teria se livrado de ter de viver uma vida dupla, composta por um ser humano vivo e outro morto.

O outro samba da psicanálise

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Um psicanalista funciona ouvindo os “surdos” da bateria da vida.

O sucesso da escola de samba nasce do compromisso dos participantes com a Escola na qual desfilam. Do mesmo modo, o sucesso de uma análise está no quanto a dupla envolvida, analista e analisante vestem a camisa da direção da cura.
Engana-se quem pensa que um desfile de uma escola é feito de maneira aleatória ou improvisada. São meses de trabalho de pesquisa, de elaboração, de amadurecimento de uma ideia. Não há nenhuma garantia de sucesso. Os imprevistos podem ser de diversas ordens. Um carro que quebra, uma pessoa que desiste em cima da hora, um cálculo errado do tempo etc. Quem desfila precisa lidar com tudo o que aparece.
Ao retroagir sobre o enredo de sua vida, quem sofre se dá conta de que seu samba atravessou. Não consegue escutar nem sua voz, nem a do outro. Perdeu pontos na harmonia. Não conseguiu manter vivo o pulsar do inconsciente. Na evolução, o fluxo não foi constante. Abriu brechas no meio de sua vida. Vai para a análise vestindo uma série de fantasias que encontrou ao longo da vida, sem saber muito bem por que. A chegada não empolga o analista.
Em análise, o paciente percebe que sempre seguiu o mesmo enredo. É por isso que o samba sempre sai com a mesma batida. Talvez, na busca de construir um desfile impecável, sem pecados e ideal aos olhos dos outros (a grande comissão julgadora), a pessoa se perdeu em tantas fantasias (rei, pirata, jardineira) e vacilou quanto ao lugar que gostaria de ocupar.
O analista é aquele que vai ajudar a pessoa a construir outro enredo. Ele escuta a desafinação ou quando a bateria não está acompanhando o ritmo do samba. Um psicanalista funciona como aquele que pode ouvir os “surdos” da bateria da vida de alguém. Trata-se de não permitir que o samba atravesse. Ao escolher por um tratamento psicanalítico, diferentemente de se calcar em critérios pré-estabelecidos por uma comissão julgadora, a pessoa arrisca-se a encarar o imponderável do desejo inconsciente. Trata aquilo que lhe é mais íntimo.
O carnaval pode até acabar na quarta-feira de cinzas. A praga analítica não passa. Com Freud, sabemos que o inconsciente pulsa constantemente. Nesse pulsar, cada qual aprenderá a construir outro samba.

Humanizar-se no SUS?

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Aumentar o tempo de formação dos médicos não basta para tornar os currículos dos cursos de medicina mais humanizados.

O Ministro da Educação Aloizio Mercadante anunciou uma alteração na grade curricular do curso de medicina. A partir de 2015, o curso passa de seis para oito anos de duração. Nos últimos dois anos, o ciclo de formação será feito no Sistema Único de Saúde (SUS). Na avaliação de Mercadante, a experiência no SUS vai “humanizar” a formação universitária. Frente a essa posição, perguntamos: Basta atender pessoas desprovidas de recursos financeiros para ficar mais humano? Quais são os principais nós dessa formação?
Lembremos que a palavra “diagnóstico” vem do grego, significando “ver através”. Indica que o profissional precisa saber atravessar a cortina de fumaça das palavras que lhe são dirigidas quando o paciente chega com suas queixas. Se tomarmos, por exemplo, uma especialidade médica como a ginecologia, veremos que, na prática, vários dos sintomas relatados excedem ao campo do que compete à ação do ginecologista. Nesse momento, pode fazer duas ações: encaminhar a paciente para outro profissional ou peneirar o que deve ou não ser valorizado daquilo que está sendo relatado.
Para iluminar as complicações de uma época em que os médicos de família são exceção, e as especialidades se multiplicam, procuramos o professor José Roberto Filassi, professor livre docente em ginecologia pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de mastologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) para discutir a prática do consultório do ginecologista, profissional que atende mulheres cujas queixas físicas, algumas vezes, excedem ao corpo biológico.
Filassi conta que alterações de peso, distúrbios menstruais e secreção vaginal são as principais queixas das mulheres que procuram o ginecologista atualmente. Para o médico, a partir do reconhecimento da diferença entre o quadro físico e, por exemplo, os efeitos das alterações hormonais e consequentes mudanças no humor, ginecologista e psicanalista podem fazer parcerias produtivas. Segundo ele, às vezes, antes mesmo do exame clínico, é possível perceber que a queixa da mulher advém de um sofrimento psíquico.
Em sua clínica, dor mamária e dor ou incômodo na região vulvar – sem sinais clínicos que justifiquem esse aparecimento – talvez sejam os exemplos mais comuns, devido à cancerofobia (horror mórbido do câncer). Quando isso ocorre, o ginecologista é, segundo Filassi, convidado a se portar como uma espécie de “amigo Freud”, que escuta as queixas da esfera emocional. Para o médico, essa tendência aumenta nas fases da vida da mulher, bem marcadas por alterações emocionais: adolescência, gravidez e o climatério.

Na avaliação de Filassi, é nessa hora que, para muitos profissionais, sobra razão e falta sensibilidade. Muitos médicos se apavoram com o que julgam ser o sofrimento psíquico das mulheres e passam a, por exemplo, aplicar a terapia da reposição hormonal indiscriminadamente. Para ele, isso é um erro. O médico deveria saber “escutar”. A reposição hormonal visa a, exclusivamente, manter a qualidade de vida feminina e sua aplicação é indicada somente quando se fizer necessária. Trata-se de uma terapia individualizada para cada mulher.
Outros exemplos de quadros que exigiriam, por parte do médico, uma escuta mais apurada são aqueles em que a mulher chega dizendo: “Minha avó teve câncer de mama, minha mãe também” e pede uma mastectomia total. Para Filassi, trata-se de uma decisão que precisa ser cuidadosamente avaliada a partir das orientações dadas por um mastologista. Isso porque essa cirurgia é uma conduta de exceção no tratamento e “não deve se tornar regra”.
Filassi ainda aponta que outra situação complicada na clínica ginecológica do século 21 são os novos medicamentos que têm impactos na sexualidade humana, tais como os “famosos azulzinhos”. Eles têm dado origem a sintomas inéditos, tais como HPV em pessoas com idade avançada. O ginecologista afirma que explicar a uma mulher acima dos 50 anos com relacionamento estável que está com HPV é muito delicado, pois, normalmente, ela fica extremamente preocupada e revoltada.
Tendo em vista o exposto, pensamos que repensar o currículo dos cursos de medicina é, de fato, bastante importante, mas não se resume a fazer os jovens profissionais a atender neste ou naquele serviço de saúde. Para aprender a parte “humanitária” para lidar com o paciente, vai ser necessário um pouco mais do velho e bom “amigo Freud”. Mais especificamente, é hora de voltar a aprender a ler o sintoma a partir dos indícios clínicos, tal como Freud nos ensinou.
Existe um limite muito tênue entre a escuta de um médico clínico e o de um psicanalista. Se, para o segundo, é imprescindível localizar os componentes físicos das queixas que lhe são dirigidas e encaminhar o paciente para um médico, para o primeiro, também é necessário reconhecer os limites de sua ação. Será que isso precisa, necessariamente, ser aprendido no SUS? Não sei se as pessoas que já tiveram a necessidade de utilizar esse serviço de saúde se sentiram comparativamente mais bem escutadas do que em outros.

Publicado Originalmente em 13 de setembro de 2013.

TPM é o outro nome da angústia?

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A sigla TPM, tão conhecida como Tensão Pré-menstrual, bem poderia designar outra coisa: TEMPO PARA MOSTRAR. Mostrar o que? Que algo não anda bem em mim. TPM poderia ser um nome bonito para designar o vazio que as mulheres experimentam, sem saber o que é. Poderia ser uma sigla que, ao nomear suas angústias, torna-as mais palatáveis, permitindo tratá-las.
Ao receber, de um médico, o diagnóstico de TPM, é como se uma mulher tomasse para si o direito de permanecer tensa. É licença para angústia. Muita gente se ancora nesse diagnóstico para justificar suas dificuldades psíquicas. Dar um diagnóstico de TPM pode, portanto, ser muito delicado: a pessoa pode, a partir dele, se sentir à vontade para insultar o marido, ignorar o filho, chorar sem motivos…
É como se, em certas épocas, comportamentos inaceitáveis se tornassem respeitáveis e, até, esperados. Afinal, “estar de TPM” virou, em alguns casos, justificativa para tudo. A TPM é como um problema de junta: junta tudo e joga fora.
Do ponto de vista médico, a TPM é uma síndrome, um conjunto de sintomas. Do ponto de vista psicanalítico, é um lembrete mensal de que a mulher não está confortável com o aparelho reprodutor feminino.
A sensação da cólica menstrual, fisiologicamente, corresponde à força que o corpo precisa fazer quando ocorre a descamação do endométrio. Pode ser desconfortável, mas não precisa ser dolorido. Ou seja, não precisa ser um carma mensal para a mulher.
O período menstrual varia de mulher para mulher. De todo modo, é até lembrado em canções da música brasileira, como “Cor de Rosa Choque”, de Rita Lee. Em um dos versos, se lê: “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”. O que tem de esquisito nisso? Se uma pessoa dá consistência à esquisitice de seu corpo, o que é natural passa a ser insuportável.
A TPM, portanto, é sinal do que? Sinal de que uma parceria entre um médico e um psicanalista poderia ser bem-vinda. Na mesma medida em que a pessoa pode encontrar, no ginecologista, tratamento para as dores fisiológicas, pode buscar, em um psicanalista, tratamento para os sintomas psíquicos que buscam expressão em seu corpo.

O amarelado silêncio do analista

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Trouxe a filha como se fosse um brinquedo quebrado. Cabia a mim consertá-la.

A Clínica do Real privilegia a monstração, aquilo que precisa ser passado no mundo, mas não consegue entrar no desfiladeiro das palavras. Analisar como funciona a clínica com crianças ajuda a revelar como esse trabalho se dá. Com as crianças pequenas, mais comumente, trabalha-se no nível do sem palavras. O caso Maíra ilustra esse aspecto.
Aos 11 anos, quando me foi trazida pela mãe, falava muito pouco e, quando o fazia, mostrava pobreza lexical e uso de frase muito simples e truncadas. Muitas vezes, ao invés de responder minhas perguntas, ela as repetia em eco, mesmo as mais simples como: – Como é o seu nome? Mesmo os meus gestos eram imitados por ela quando interagia comigo. Esteve em análise durante dois anos e quatro meses.
Maíra chegou ao meu consultório acompanhada de sua mãe, que a trouxe por indicação de um pediatra. Segundo ele, todos os exames clínicos da menina estavam normais, mas ela sofria de enurese noturna. A mãe já tinha procurado ajuda de um neurologista e de um nefrologista, em vão. A solução temporária estava sendo forrar o colchão com um plástico. Trouxe a filha como se fosse um brinquedo quebrado. Cabia a mim consertá-la.
Narrou-me que o médico indicou uma análise por julgar que o que a menina tinha era “emocional”. Pensando, acabou supondo que a menina havia se traumatizado com o nascimento do irmãozinho, à época, com menos de um ano. Como o bebê teve problema de refluxo quando nasceu, demandou maiores cuidados da mãe, que ficava acordada a noite inteira em vigília para evitar o risco do filho engasgar após ser alimentado. Maíra havia ficado em segundo plano.
Os dois filhos tinham sido gerados por acidente. A mãe não queria tocar no assunto de como foi a gestação da menina, fugindo pela tangente quando eu lhe perguntava algo. Quanto ao pai da menina, era, no dizer da esposa, um “homem casado com o mercado de capitais”. As poucas vezes que via a menina era quando, por um acaso, ainda estava em casa antes da criança ir para o colégio.
O início do tratamento exigiu muito desprendimento por parte do analista. A menina desvitalizava o que eu falava. Sempre era monossilábica e economizava cada palavra que dirigia a mim. Se eu lhe perguntava: “Como foi na escola?”, me respondia: “foi muito bom”. Se eu insistia em pedir-lhe explicações do que significava esse “muito bom”, limitava-se a responder: “muito bom”. Durante uns quatro meses em análise, Maíra nunca se queixou da enurese.
Acabei tentando recorrer a alguns atalhos para tocar a menina. Convidei-a para desenhar. Percebi que todos os seus desenhos eram monocromáticos: por exemplo, fazia um cenário com tudo verde (carro, casa, criança etc.). Todos os traços eram milimetricamente controlados por ela. Economizava em tudo, inclusive nos pedaços de papel dedicados aos desenhos. Em poucas palavras: a menina estava, com os desenhos, reproduzindo o mesmo padrão esvaziado de sua fala…
O ponto de virada aconteceu quando eu notei que ela usava todas as cores, menos o amarelo. Resolvi instigá-la. Antes de sua chegada, preparei uma mistura amarelada em ponto de um mingau ralo. Convidei-a para brincar com a tinta ao mesmo tempo em que lhe perguntei por que ela nunca escolhia o amarelo para suas produções. Muito brava, respondeu-me que não gostava e ponto. Continuei a provocá-la, imitando seu modo de falar.
Muito irritada, teve uma explosão de raiva. Começou a molhar as mãos na tinta e a sacudi-las por todos os lados. Respingou o amarelo por todos os cantos, inclusive em mim. Não satisfeita, derrubou a vasilha, fazendo com que uma grande quantidade de tinta caísse em mim. Assustou-se, provavelmente esperando ser repreendida. Limitei-me a abraçá-la, sem dizer uma única palavra. Em prantos, aconchegou-se em meus braços.
Era uma quinta-feira. Na segunda, a mãe me ligou dizendo que, a partir daquela data, Maíra nunca mais urinou na cama. Após esse primeiro efeito terapêutico, tinha começado a análise de Maíra.

Comer até morrer: tratamento da dívida impagável?

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Fica uma interrogação a respeito de como nós, psicanalistas, compreendemos a cirurgia bariátrica. Se ela incide sobre o corpo biológico, como fica o corpo pulsional após sua realização?
Na Conversação clínica IPLA 2015, intitulada “O corpo, de Freud a Lacan, pelos casos clínicos”, Helainy Andrade apresentou “Dos 170 quilos ao apetite de viver”. Bem escrito, o relato instigou. Era a história de uma jovem senhora de 37 anos, chamada Bethânia. Como ler um caso clínico? Qual recorte o leitor vai privilegiar? Decidi fazer o exercício de interpretar esse caso com a grade de leitura da Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano – USP.
Demanda inicial de análise: Segundo a analista, a demanda de análise de Bethânia era poder libertar-se da “prisão emocional” com relação à mãe. Helainy, entretanto, privilegiou, desde o título do relato, outro tipo de prisão: o anteparo que 170 quilos colocavam entre a paciente e o mundo. Logo, a analista interessou-se pela prisão corporal. A demanda de se livrar da prisão corporal não foi explicitada por Bethânia. Ao mesmo tempo em que ela nada dizia a respeito de sua obesidade, narrava, como se não tivesse importância, as limitações impostas por seu corpo. Helainy frisa que Bethânia evitava perceber a existência do corpo próprio. Ficava o dia todo no trabalho e, se preciso, à noite também. Não tinha amigos e nenhuma vida social. O único fator ligado à sexualidade que dava prazer à jovem senhora era a compra, duas vezes no mês, de roupas de cama na melhor loja da cidade.
Os principais significantes: Na história narrada por Helainy, os significantes que se destacam estão ligados ao par visível/invisível. A paciente narrava os modos por meio dos quais tentava se tornar invisível e não se dava conta de que com o seu corpo grande e o seu mau-humor causava o efeito contrário. Essa posição estaria ligada a um “como se”, especificando, à dificuldade de legitimar suas conquistas.
Modos preferenciais de gozo: O gozo de Bethânia estava relacionado ao “se fazer ver”. Assim, o que poderia parecer apenas um distúrbio alimentar estava relacionado com a satisfação obtida na quebra da expectativa alheia. A analista destaca tanto a insensibilidade de Bethânia ao próprio corpo quanto suas tentativas de se fazer invisível. Temos, então, um exemplo de gozo acéfalo que, para se manter, precisava da invisibilidade das suas consequências.
A direção clínica adotada pela analista: Inicialmente, Helainy acatou a demanda de Bethânia. Ajudou-a a “recuperar a vida” das mãos da mãe, desmantelando a história que ela contara para si própria. Para tanto, a analista positivou as conquistas da paciente até aquele momento (como, por exemplo, o seu notável sucesso profissional). Fazendo isso, a analista incidiu sobre sua dívida de gratidão. Aparentemente, isso se deu porque Bethânia pôde legitimar as conquistas da sua vida.
Modos de pinçamento do gozo ao longo do tratamento: Nos primeiros três meses, Helainy foi a favor do sintoma relacionado com a demanda inicial. Deixou que a paciente esgotasse suas queixas a respeito da relação com a mãe. Então, a analista incidiu uma interrogação: O que você pode fazer que leve sua assinatura? Isso permitiu que Bethânia começasse a dar menos importância a sua ficção e se deslocasse na direção de si mesma, localizando seus próprios pontos de fixão. Para contar consigo mesma, que história ela iria escrever dali para a frente?
Algumas ponderações para além do relato: Gostaria de trazer um texto que lê a cirurgia de redução do estômago do ponto de vista da psicanálise. Chama-se “A cirurgia de redução do estômago: interdição de que?, de Silvia Esther Soria de Cuesta. A psicanalista correlaciona a obesidade mórbida com “as novas formas que o sofrimento toma em uma sociedade construída e mantida nos moldes do consumismo”. A partir de sua experiência clínica, afirma que os pacientes, ao relatar sua situação, experimentam a falta de palavras. Fica uma interrogação, portanto, a respeito de como nós, psicanalistas, compreendemos a cirurgia bariátrica. Se ela incide sobre o corpo biológico, como fica o corpo pulsional após sua realização?
No Seminário 20, Lacan afirma que “Nada força ninguém a gozar, senão o superego. O superego é o imperativo do gozo – Goza!” (p. 11). No caso de Bethânia, o supereu funcionava como parceiro do gozo desenfreado pela comida. Em outras palavras, se o supereu é a instância que instaura a culpa no sujeito, a ponto de “esmagá-lo”. O sentimento de culpa teria levado Bethânia a mortificar o seu corpo para que, morrendo, não se sentisse mais culpada por ter nascido ou por ter uma dívida impagável com a mãe.
No relato, parece haver uma articulação entre a comilança desenfreada e a sensação de dívida com a mãe. Era como se o superego dissesse: “Come até morrer! Goza com a tua comida!”. Afirma-se que Bethânia queria pagar a dívida com seu sofrimento e com o próprio corpo. Depreende-se, portanto, que a relação com a mãe gerava culpa e, essa, por sua vez, recrudescia o superego. Finalmente, o imperativo do superego poderia estar relacionado aos 170 quilos. Parece que sua posição de gozo se relacionava ao “fazer-se sugar” (pela mãe, mas não só). A paciente escolheu fazer uma cirurgia bariátrica para conter o gozo desenfreado quando justamente se viu aliviada da culpa. Abre-se, aí, um interessante campo de pesquisa para pensar no tratamento da obesidade mórbida. Podemos passar a palavra para a psicanálise, que terá muito a dizer.

Publicado originariamente em 18 de dezembro de 2015

Filho doente ou mãe deprimida?

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Quando vieram relatar o que estava escrito no diário, descobri que Pedro ocupava o lugar de “sua majestade o bebê, como, em 1914, diria Freud, no texto “Sobre o narcisismo: uma introdução.
Recebo um casal aflito em meu consultório: foram encaminhados pelo pediatra, que me disse que a criança tinha distúrbios de sono. Coincidência ou não, naquela mesma semana tinha lido a respeito da pesquisa da fisioterapeuta e professora da USP, Patrícia Daniele Araújo, feita com 1.027 crianças entre três e cinco anos, matriculadas na rede de ensino da cidade de São Paulo. Segundo a pesquisadora, os principais distúrbios do sono que afetam as crianças são: 48,5% movimentam-se muito enquanto dormem, 38% acordam durante a noite e demoram a voltar a dormir, 35% roncam, 21% fazem xixi na cama. Ainda de acordo com a pesquisa, a maioria desses problemas tende a diminuir, naturalmente, após os cinco anos. Qual seria então o problema da criança que iria receber?
Pedro, 18 meses, chegou no colo dos pais. A entrevista foi tão confusa que não consegui entender a queixa da família nem a descrição dos sintomas da criança. A única coisa que os pais concordavam entre si era que o menino, terceiro filho de uma prole de três, não dormia à noite. A mãe era professora e o pai dentista. O filho mais velho tinha 17 anos e a filha do meio, 14. Os pais desejaram esse filho tardio. Após uma semana de tratamento, o menino passou a dormir. Milagre? Não, psicanálise.
Pedi que a família fizesse um diário detalhado de seu cotidiano e trouxesse na segunda entrevista. Chegaram a registrar três dias de convivência com a criança. Inspirada em O Seminário da Carta Roubada, de Jacques Lacan, eu queria estudar a rede de relações. Queria saber em que lugar cada um estava e, o mais importante, em que lugar tinham colocado Pedro.
Quando vieram relatar o que estava escrito no diário, descobri que Pedro ocupava o lugar de “sua majestade o bebê, como, em 1914, diria Freud, no texto “Sobre o narcisismo: uma introdução”. A família era freudiana exemplar. Ao “acolher” o bebê, estavam amando a si mesmos. Fascinados com o fato de que bebês não precisam limitar o seu narcisismo, tinham projetado, em Pedro, sua ânsia de gozo ilimitado. O acolhimento dos excessos do menino, infelizmente, estava prejudicando toda a família.
Um exemplo: ele impunha a todos os horários de dormir e de acordar. Assim, ninguém mais tinha disposição para o trabalho ou para a escola. Não era o bebê que tinha distúrbio do sono! Eram seus pais que tinham, por assim dizer, “distúrbio narcísico”! Supostamente temendo as reações espetaculares do bebê (como, por exemplo, bater a cabeça na parede quando alguém o contrariava), a família ficava refém de suas escolhas.
Nesse ponto, o estudo do texto “Nota sobre a criança”, de 1969, me serviu de auxílio. Lembremos que, para Lacan, “o sintoma da criança acha-se em condição de responder ao que existe de sintomático na estrutura familiar”. Ao escutá-la, pude perceber que o menino era colocado como um band-aid de seu sintoma: o fato de estar 24 horas do seu dia ocupando-se do “Pedrinho”, desculpabilizava-a de ocupar o lugar de mulher e de mãe dos outros filhos. Projetando-se no filho, a mãe se oferecia ao deleite.
Tracei então um plano de ação para a família, exigindo consequência. Fui enfática ao dizer que cada um precisava se responsabilizar por sua parte. Combinamos que Pedro deveria ser mantido acordado durante o dia. Traçamos brincadeiras e atividades que poderiam ser feitas com ele. À noite, a família prepararia a criança para, paulatinamente, ir se acalmando: menos barulho, luz, televisão etc. A parte mais difícil foi convencer a mãe de Pedro, já que a sua tendência era a de sempre corresponder à demanda. Insisti.
Resultado: o bebê passou a dormir à noite e, consequentemente, a família pôde desfrutar do sono há muito tempo perdido. Não posso terminar esse relato com “foram felizes para sempre”. Tão logo o sintoma do menino cessou, sua mãe entrou em depressão. Ponto para Lacan e entendamos que o caso dentista é outra história. Publicado originariamente em 18 de dezembro de 2015

Publicado originariamente em 23 de outubro de 2015

Obesidade infantil: culpabilizar ou responsabilizar?

Brasil 5

A obesidade infantil tem aumentado ano após ano em vários países, inclusive, no Brasil. Desde o ponto de vista da psicanálise, podemos entender que esse sintoma alude a outra fome, que se expressa pelo gosto de alimentos que engordam.
“Pais deveriam ser punidos pela obesidade de filhos”? Este foi o título de um artigo publicado pela BBC News, de autoria Justin Parkinson, em 18/02/2015. O artigo da BBC explica que está debatendo a possibilidade de multar pais com filhos obesos. O que se perfila nessa proposta é a ideia de que os pais estejam sendo relapsos no cuidado com os filhos. Será que multá-los os tornaria mais atenciosos?
O tema é instigante. A obesidade infantil tem aumentado ano após ano em vários países, inclusive, no Brasil. Desde o ponto de vista da psicanálise, podemos entender que esse sintoma alude a outra fome, que se expressa pelo gosto de alimentos que engordam.
Sabemos que, atualmente, a configuração das famílias mudou. É cada vez maior o número de pais e mães que trabalham o dia todo, mas isso não justificaria o fato de terem se omitido de organizar um cardápio com os cuidadores ou instituições que recebem a criança. Dentro do seu orçamento e tempo, cada família pode encontrar formas criativas para lidar com a alimentação de seus filhos. A alimentação pode ser vista como um momento propiciador de descoberta de sabores, cheiros, comparações de textura etc.
Um dia, ouvi de uma mãe que vez ou outra ela levava seus filhos para lancharem fora. Ela não os proibia de escolher o lanche. Mas, querendo mantê-los longe dos excessos, já planejava o “antes e o depois”. Ela disse: “- Sabe, se sei que eles vão pedir, por exemplo, algo muito calórico, já imaginando a situação, ou vou dar uma volta a pé com eles antes de voltar para casa ou, ainda, paro o carro um pouco mais longe”!
Ter um filho doente excede ao preço de qualquer multa. Uma pessoa que paga, em dinheiro, por sua omissão, sente-se aliviado de sua culpa, mas não de sua responsabilidade. Entendemos que imputar culpa a alguém não leva a nada. Os interessados precisariam realizar um trabalho de responsabilização dos pais. A culpa leva os pais ao martírio, mas não fornece combustível para a ação implicada. Para tanto, é necessário assumir o lugar de pai ou de mãe desde o qual a pessoa se sente responsável pela saúde física, mental e psíquica dos filhos que decidiu ter.
É necessário compreender que a obesidade infantil é um sintoma dos pais que se manifesta nos filhos. Ele revela que algo não vai bem na família. Quando os pais não lidam com seus excessos e omissões, os filhos acabam se tornando depósitos dos efeitos das dificuldades paternas.
Maria da Glória Vianna é psicanalista, mestre em linguística pela PUC e membro do Corpo de Formação do IPLA.

Publicado originariamente em 25 de setembro de 2015