Quarentena: Dicas para uma faxina na alma

Baralho de cartas

E agora? Confinados, o que fazer com tanto tempo ocioso nesta quarentena? Nos sites destinados a nos dar dicas, se fala muito em faxina e organização de casa. 

Pode até ser uma boa ideia, sair pelos cômodos como quem estivesse visitando um museu: vire agora para lá, a direita você vai ver, em seu armário da cozinha, a seção de antiguidades: uma quantidade absurda de Tupperwares que você esqueceu de devolver e agora está com vergonha, outros sem tampa, alguns furados… 

Vai encontrar, também, as homenagens aos deuses da agricultura, um arroz negro, que você adora, com o prazo de validade vencido, escondido atrás do saco de açúcar, que, aliás, vale até abril; será que o Corona já vai ter acabado? ‘Nossa este, ainda vale até dezembro, e vc havia esquecido, lá no cantinho do armário, quase escondido sob o saco de açúcar… 

Não vai dar nem uma hora de arrumação e você só vai estar pensando no que venceu, perdeu o prazo. Houve até que contasse que, após arrumar todo o closet e ir dormir, de repente acordou com um grito. Era sua blusinha que tropeçou e caiu de moda! 

Pensar que, ao olhar nossas coisas, nos deparamos com os sacrifícios que nós fizemos para ter o que, na hora da faxina, olhamos meio desolados. As prestações para o conjunto de panelas não aderentes; aquela saia justa que ressaltaria os esforços na academia e mataria de inveja as amigas e, agora, parece só cafona. Às vezes, ao invés de dar prazer, o excesso dá angústia.

Neste ponto da quarentena, o da angústia, ganhamos uma nova bússola. Que objetos já não fazem mais sentido algum, gerando angústia? A que eventos ou pessoas estão associados? O que mais pode ser jogado fora junto com o potinho velho? Desbastar o peso do presente perpétuo vai tornar você mais leve, mais suave. Não se trata de desprender-se simplesmente porque as prateleiras estão cheias, mas porque angustiar-se sempre é um convite para transformações.

Sustentar as perguntas e as respostas, que é o outro nome de se fazer amigo da angústia, dá trabalho, é para poucos. Arrumar o armário da alma é para aqueles que tem coragem.

Quarentena: dicas para uma faxina na alma